segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Sobre a regulamentação da profissão de analista de sistemas

(e-mail enviado aos 2 senadores citados e aos 3 senadores de São Paulo)


É com grande pesar que assisto à aprovação do projeto de lei que regulamenta o exercício da profissão de analista de sistemas na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, de autoria do Sr Expedito Júnior, e que se encontra em discussão na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, de presidência da Sra Rosalba Ciarlini.

Sou formado em Engenharia de Computação pela Unicamp e, mesmo que esse projeto não contemple meu diploma, tenho a certeza de que o CREA garantirá a liberdade que eu e meus colegas de formação possam exercer livremente um cargo para o qual estão plenamente aptos. Liberdade essa que o mencionado projeto supostamente garante, mas não nos oferecerá.

Em tempo, filiei-me ao CREA por opção, e não por obrigação ou medo de cerceamento de meus direitos e de minha liberdade. Da mesma forma, já fui membro da Sociedade Brasileira de Computação e da Association for Computing Machinery, entidades profissionais de referência nacional e internacional, respectivamente. Nenhuma delas é favorável a qualquer regulamentação restritiva baseada na posse de um diploma e na contribuição involuntária a um conselho sem consetimento do próprio profissional.

De experiência pessoal, já tive muitos contatos com professores de computação e colegas de profissão com as mais diversas formações, e nunca pude atestar que o diploma tivesse evitado a contratação de um mau profissional ou que a falta dele tivesse impedido o sucesso de um bom profissional.

Se existe algo a ser feito para garantir o sucesso da área em nosso país, esse algo refere-se à qualidade de nossa educação, e começa por garantir a qualidade do ensino superior em computação, motivo pelo qual me preocupo tanto com uma regulamentação nos presentes termos face a nossa conjuntura. Além disso, precisamos reforçar a qualidade do ensino em matemática em todos os níveis do ensino, aproximando-nos daquilo que hoje é realidade em países como Coréia do Sul, China, Índia e Polônia, para citar alguns poucos concorrentes diretos de nossos profissionais e empresas da área.

Convido vossas excelências a atestar o que digo visitando uma universidade pública ou uma grande empresa e perguntando aos presentes que formação eles próprios e aqueles nos quais se miram tiveram.

Termino essa carta com a esperança de que possam refletir sobre tais considerações que não são apenas minhas, mas de muitos outros colegas de profissão, alguns dos quais também leitores da mesma. E que, compreendendo nossa preocupação e o potencial dessa área para alavancar nossas exportações, suprir a demanda interna e trazer excelência aos processos de outros setores nacionais estratégicos, não proibam bons profissionais de participar da construção ativa de nosso país.


Atencionsamente,

Thiago Serra Azevedo Silva
Engenheiro de Computação

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Sobrevivendo na USP - relatos de um "unicamper"

Hoje eu me senti novamente um bixo: estava perdido dentro de um campus enorme e não tinha idéia de como ir de um lado para o outro. Essas coisas são complicadas: eu vivia carregando dinheiro na Unicamp, tentando achar caminhos mais curtos, precisando "descobrir" onde ficavam salas e institutos inteiros, mas eu sempre avistava um restaurante e sabia que podia cruzar por dentro de um quarteirão e garantidamente sair do outro lado (apesar da FEEC desejar o contrário).

Depois que eu comecei a trabalhar, almoçar na Unicamp era algo esquisito: metade dos restaurantes não aceitava nada além de dinheiro. Mas eu achava caixas para saque com alguma facilidade.

Depois de começar a trabalhar em locais de grande movimentação de pessoas etc, fica ainda mais esquisito voltar pro mundo bucólico das universidades públicas, em especial quando o projeto do campus não é exatamente um projeto e não houve nenhum Zeferino que pensasse na comodidade geral.

Na Unicamp existe uma praça central, restaurantes e bancos espalhados, mas com concorrência devido à proximidade física devido ao projeto radial. E esse projeto radial é quase lógico pela disposição das unidades. Digo "quase" porque nunca entendi a pedagogia atrás da física e a economia entre a matemática e a computação, mas o fato de a medicina estar em um universo quase paralelo explicava muita coisa.

Na USP, existem mega-quarteirões que são metade um prédio que nem sempre tem saída pro outro quarteirão e a outra metade (algumas vezes uma generosa metade) puro matagal. Você não acha um restaurante se não entrar em um prédio, e eles são tão dispersos que ninguém faz concorrência com ninguém e caixa registradora ainda não chegou (nem gaveta com chave).

Na Paulista existe um restaurante que meus colegas chamam de "Marba", porque é o mais barato. Ele é ruim, mas aqui na USP um como ele faria miséria pra muitos outros se simplesmente não utilizasse nenhum balde ou bacia adequados para lavar roupa para despejar uma comida "commodity" no local onde você deve pegá-la. E toda essa qualidade de serviço uspiana sai quase pelo mesmo preço que o Marba.

Será por conjunturas com essa que as universidades públicas ainda conseguem formar, mesmo nos dias de hoje, revolucionários utópicos sem noção de realidade para atazanar a vida da sociedade?

Só sei que fiquei feliz de não passar fome nem chegar tão atrasado na aula hoje =)