sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

Reflexões de um Resfriado

Se eu ando cambaleante
É porque ando pra pensar
Das rasteiras que a Vida me dá
Com qual risada vou levantar















(por essa rua eu ia ao colégio - nela eu pensava em coisas que iam desde metafísica até relacionamentos pessoais, fiz uma grande e brevíssima amizade que terminou quando ela se entendeu com o namorado, e assisti a um seqüestro relâmpago)

"
Eu ainda ando pelas mesmas ruas
A cidade cresce e tudo fica cada vez menor
Agora eu sei que a vida não é um jogo
De palavras cruzadas
Onde tudo se encaixa
?O que será que ela quis dizer?
5 letras, começando com a letra A
"
in Nunca Mais
(Lullabye - Shawn Mullins. Versão: Gessinger)

domingo, 19 de fevereiro de 2006

Por Que um Blog?

" No ar da nossa aldeia
Há rádio, cinema & televisão
Mas o sangue só corre nas veias
Por pura falta de opção

As aranhas não tecem suas teias
Por loucura ou por paixão
Se o sangue ainda corre nas veias
É por pura falta de opção

Você sabe, o que eu quero dizer não tá escrito nos out.doors
Por mais que a gente grite o silêncio é sempre maior

No céu, além de núvens
Há sexo, drogas & palavrões
As coisas mudam de nome
Mas continuam sendo religiões

Na dia-à-dia da nossa aldeia
Há infelizes enfartados de informação
As coisas mudam de nome
Mas continuam sendo o que sempre serão

Você sabe, o que eu quero dizer não tá escrito nos out.doors
Por mais que a gente grite, o silêncio é sempre maior

No ar da nossa aldeia
Há mais do que poluição
Há poucos que já foram
E muitos que nunca serão

As aranhas não tecem suas teias
Por loucura ou por paixão
Se o sangue ainda corre nas veias
É por pura falta de opção

Você sabe, o que eu quero dizer não vale uma canção
Por mais que a gente cante, o silêncio é sempre maior

Você sabe, o que eu quero dizer não vale uma canção
Por pura falta de opção, púrpura é a cor do coração "
Além dos Out.Doors
(Gessinger)

(s.i.c.)















(avenida 2 de barão, às 7 da manhã de um sábado de agosto - e um belo out-door para estragar o canto da paisagem)

Vontade de postar associada a falta de assunto gera essa meta-discussões, por pura falta de opção! Essa música, bem como o primeiro CD inteiro da formação Gessinger, Licks e Maltz dos Engenheiros do Hawaii provavelmente renderão muito assunto aqui. E com todo o mérito possível. Essa música já antecipa a justificação que gostaria de dar ao nome do blog futuramente.

Ela retrata a angústia que a ilusão cotidiana nos traz. Essa auto-alienação do mercado como um todo, antecipando soluções e gerando professias auto-realizáveis. Compra e venda. É só disso que se trata a vida nas grandes cidades. Só tem espaço o que é rentável, e pela rentabilidade qualquer banda de esquina canta o que a gravadora sabe que vai dar sucesso. Não estou defendendo aquelas que integram o meu gosto musical -- muito pelo contrário, não sei nada para dizer a favor ou contra, mesmo porque letra conspiracionista também tem valor comercial. Mas é embasbacante como é fácil estabelecer uma moda hoje em dia. Como os gostos são modificados em uma decisão vertical, como uma rádio pára de usar um slogan com "rock" quando a coerência está no limiar de sumir -- quando vender exclusivamente uma tendência não parece ser mais lucrativo.

E que mentira é essa que chamamos de sociedade da informação? A enganação apenas ganhou muitos volumes e um aspecto enciclopédico, coluna semanal ou edição diária. O silêncio, esse monstro de tantos nomes e de todos os tempos, permanece e se fixa ENTRE nós, como sempre. O vislumbre de um mundo supostamente recém-ingressado em um período de transformações é manchete todos os anos. Então nada vale à pena? Muito pelo contrário. Estamos na mesma era de sempre, com todo um passado secular para aprender e todo um futuro milenar para por em prática. Tudo é apenas uma questão de interpretação.

E o que seria um blog senão mais espaço para fazer nada? Então, por que perder tempo com isso? Eu não leio blogs. E provavelmente só vou freqüentar algum que me dê possibilidade de uma boa discussão - não concordância. E eu realmente não veria utilidade nenhuma afinal, se já não tivesse provado a terapêutica de espiar a vida alheia por um flog; e, sem que a pessoa tivesse a mínimia idéia disso, tenha me ajudado a dar um passo que foi mais do que um pulo.

Vou falar das minhas besteiras, das minhas interpretações (até daquelas que abandonei), vou conspirar e talvez até me contradizer. Mas como já disse um filósofo, que vai bater muito cartão por aqui, é melhor ter uma opinião volúvel do que se admirar e propagandear sua própria inércia sobre o pensar. Quero tentar falar sobre o que não é rentável, não é manchete e não interessa ao pseudo-ceticismo dos nossos pseudo-intelectuais.

Mas eu não sou grande coisa também... quem sabe um dia...

sábado, 18 de fevereiro de 2006

Fátima e a Cruz na Porta da Tabacaria

" Cruz na porta da tabacaria!
Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Ao diabo o bem-estar que trazia.
Desde ontem a cidade mudou.

Quem era? Ora, era quem eu via.
Todos os dias o via. Estou
Agora sem essa monotonia.
Desde ontem a cidade mudou.

Ele era o dono da tabacaria.
Um ponto de referência de quem sou
Eu passava ali de noite e de dia.
Desde ontem a cidade mudou.

Meu coração tem pouca alegria,
E isto diz que é morte aquilo onde estou.
Horror fechado da tabacaria!
Desde ontem a cidade mudou.

Mas ao menos a ele alguém o via,
Ele era fixo, eu, o que vou,
Se morrer, não falto, e ninguém diria.
Desde ontem a cidade mudou.

(14-10-1930) "
Cruz na porta da tabacaria!
(Álvaro de Campos -- Fernando Pessoa)

Não sou um grande fã de Fernando Pessoa... mas esse poema sempre me faz pensar na mesma coisa... nas doenças pulmonares! No preço de nosso modo de viver, na inexistente paz que imaginamos defender sem pensar o que está embaixo de nossos sapatos nesse momento. A Muralha da China é um cemitério ao ar livre dos corpos daqueles que foram obstáculo à sua construção. Mas nem sempre os ossos precisam estar dentro do concreto para que seu sangue derramado marque para sempre a ganância de uma sociedade.
















(cruz na porta da tabacaria?)


" Vocês esperam uma intervenção divina
Mas não sabem que o tempo agora está contra vocês
Vocês se perdem no meio de tanto medo
De não conseguir dinheiro pra comprar sem se vender
E vocês armam seus esquemas ilusórios
Continuam só fingindo que o mundo ninguém fez
Mas acontece que tudo tem começo
E se começa um dia acaba, eu tenho pena de vocês

E as ameaças de ataque nuclear
Bombas de nêutrons não foi Deus quem fez
Alguém,alguém um dia vai se vingar
Vocês são vermes, pensam que são reis
Não quero ser como vocês
Eu não preciso mais
Eu já sei o que eu tenho que saber
E agora tanto faz

Três crianças sem dinheiro e sem moral
Não ouviram a voz suave que era uma lágrima
E se esqueceram de avisar pra todo mundo
Ela talvez tivesse um nome e era Fátima
E de repente o vinho virou água
E a ferida não cicatrizou
E o limpo se sujou
E no terceiro dia inguém ressuscitou "
Fátima
(Flávio Lemos, Renato Russo)

Agradecimentos:
http://www.secrel.com.br/jpoesia/
http://membres.lycos.fr/wotraceafg/
http://www2.uol.com.br/capitalinicial/

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Moral para Todos os Males

" Eu tenho vontade de quebrar o vidro,
Ele não é a paisagem que vejo,
Suas manchas me iludem,
Por vezes se confundem com a paisagem.

Eu tenho vontade de quebrar o vidro,
Muitas vezes olho por ele e vejo coisas que parecem reais...
São manchas... eu deveria olhar noutro ângulo,
Então eu veria mais, mais, bem mais.

Eu tenho vontade de quebrar o vidro,
Tenho vontade de correr pela grama,
De sentir o vento encher meus pulmões,
De estar junto ao que tanto desejo, espero e sonho.

Esse vidro, quem colocou esse vidro!
Quem manchou e depois mais ou menos limpou esse vidro?!
Eu tenho vontade de quebrar o vidro!!!
Mas espero olhando na porta;
Espero, espero muito, até que ela se abra.

Ah! Se a porta se abrisse!
Então eu não teria vontade de quebrar o vidro.
Eu sei que ela vai se abrir.
ELE vai abrir e nós três vamos cear.

Eu não tenho vontade de quebrar o vidro.
..."
(A ovelha do meu PASTOR.
leo mondim)

O que é o Vidro?

Mandou bem na pergunta! Vou tentar responder: esse poema possui várias interpretações pq existem várias leituras, todavia como eu escrevi pesa sobre mim o que motivou-me, pois bem, na lingüística estudamos algo que se chama teoria dos signos. De acordo com essa teoria todo signo é constituído pelo significado e pelo significante, mas sem que estes elos tenham qualquer ligação real entre sí - excluo em certa medida as onomatopéias. Isto é, qual a relação da palavra árvore com o objeto propriamente dito? Eu poderia por exemplo chamar tranqüilamente um cachorro de árvore e uma árvore de cachorro sem que houvesse qualquer problema, mas não posso fazer isso apenas por uma questão de contratos sociais - excluindo é claro situações de licença como produções artisticas e nomeação de filhos (lembro-me de um caso em que o pai registrou três filhas como "Xerox, Fotocópia e autenticada", parece brincadeira, mas é sério. Assim palavras ("""""símbolos""""") são os significantes que servem como referencias para a conceituação (significação) dos verdadeiros referênciais... O vidro é isso: é algo através do qual posso aparentemente ver a realidade, ao ponto de dizer que o que vejo é real, quando na verdade "vejo coisas que parecem reais", pq na verdade não vejo as coisas, vejo o vidro que acaba por interferir na minha experiência com a realidade que não conheço - por isso "tenho vontade de quebrar o vidro", mas não sei o que realmente há do outro lado, tenho impressões vagas que me são passadas pelo vidro. Agora minha pergunta para você é: supondo que você desejasse quebrar esse vidro, qual é para você o nome do conceito existente do outro lado - e que pode ser atingido com a abertura da porta?
(Comentários do autor da poesia)















(um quadro de um museu de Ubatuba)


O vidro... essa hipocrisia colocada entre a busca e a certeza. A porta... o pensamento que liberta, a chama de Prometeu, uma verdade para pesar em nossos ombros - sua travessia é uma jornada só de ida. Olhando pelo vidro, depois de passar pela porta, muitas vezes nos estarrecemos indagando por quê aquela gente que ainda está do outro lado não "cobre suas vergonhas", não se desprende de parte de seu misticismo e vislumbre pelo desconhecido. Mas, logo à frente, encontraremos outro vidro, outra porta e talvez outra testemunha do outro lado admirando nosso atual formigueiro. Existe muito a se descobrir - no mundo e em nós mesmos.

O que nos sufoca? Até onde resolver isso está ao nosso alcance? A Fé seria a confiança no futuro, ou a crença de estamos amparados mas não isentos do dever de lutar? Existe merecimento sem busca? Muitas vezes queremos o impossível. Em outras, apenas estamos olhando a coisa pelo vidro mais sujo. É natural das naturezas fracas sujar o vidro conforme sua cegueira ou seu olhar de raposa - limitar o alcance de seus semelhantes e estabelecer moral para todos os males, como se sua fraqueza fosse uma regra geral da sociedade.

Os adornos impostos à Fé constituem o pior dos desgastes que ela poderia experimentar. Chega-se ao ponto de tudo ter uma resposta - mesmo que amanhã ela seja o contrário da de hoje. Então por que tê-la com tanta veemência? Por que tratar ao próximo como a um incapaz e isentá-lo de seus erros tomando a escolha para si, mesmo que não se possa provar a corretude dessa escolha? Quem aprende a pensar abre a porta, quem aprende a ouvir olha pela janela - incerto da sujeira.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2006

Macunaíma: a Anti-Chapa sem caráter

" - Você é idiota ou o quê?
- Idiota é quem faz idiotice. "
(Forrest Gump)


Quando algo está errado, vários focos descontentes surgem. Alguns deles um dia se encontram e se perguntam - pois é pessoal, o que podemos fazer a respeito? - e é assim que uma chave de fenda pode atravancar a Engrenagem.

Seria muito mais fácil lançar outra chapa "de oposição" nas eleições do DCE, tendo direito a quotas de xerox muito maiores do que as que pudemos arcar com nosso bolso. Nunca pensamos em entrar pra brigar pela vitória eleitoral. Mas, sendo candidata, qualquer crítica poderia ser associada a possíveis interesses em vencer o pleito. Então decidimos entrar pela porta dos fundos - eis "a" Idéia.

Comparecemos a um debate para lançar nosso manifesto e convocar o Anti-Debate. Conseguimos até um quota de 100 cartazes na conta da Comissão Eleitoral, mesmo que esse fosse ser realizado já no período eleitoral.














(divulgação do Anti-Debate pelo Campus)

Em chute alto, o comparecimento ao evento foi de aproximadamente 100 pessoas - o dobro do máximo visto em um debate oficial. A muvuca foi tanta que três viaturas emprestaram seu brilho ao evento exigindo saber o que acontecia e qual era o Registro Acadêmico do responsável.














(concentração principal de público no Anti-Debate - não coube todo mundo na foto)

Não contaram os nulos nominais, mas temos estimativas de pelos menos 25 votos, concentrados principalmente no IC, no IEL e no IFCH.

Segue abaixo o nosso manifesto.





"A política, como vocação, é a mais nobre das atividades do ser humano; como profissão, a mais vil."

A Anti-Chapa não é algo que é contra "as Chapas" ou contra a forma de organização em algo definido como "Chapa", na realidade isso pra nós pouco importa... a gente não é contra e nem a favor, aliás, muito pelo contrário!...
A Anti-Chapa não é, definitivamente, um grupo! É uma Coisa que não tem membros, nada possui e ninguém pode pretender possuí-la! Isto é simplesmente a-possível.
A Anti-Chapa é algo como Macunaíma -- o Anti-Herói ou "o Herói sem caráter"; é aquilo que veio para acabar com o que há, ou melhor, para fazer com que haja, pois não se pode acabar com algo que não existe! E propor algo melhor no lugar. Algo que exista de fato, e não que pseudo-exista.
A Anti-Chapa não é senão uma Idéia -- mas não é também uma idéia qualquer: é "a" Idéia -- a idéia é a seguinte: a Anti-Chapa é a reunião (no sentido literal e não burocrático da palavra) de pessoas em torno da "Idéia"! são pessoas que pensam uma verdadeira prática de Movimento Estudantil, que não é, necessariamente, aquele que sobrevive, mal e porcamente (diga-se de passagem), de assembléias esvaziadas (ou simplesmente vazias, já que nunca foram cheias pra que se possa dizer que tenham sido ou se tornado esvaziadas...), de demandas fictícias, criadas por movimentos e grupos políticos e/ou partidários fictícios, com fins ficticiamente estudantis e para atender às necessidades de estudantes fictícios!

Origem:
Esta idéia tão esquisita quanto interessante surgiu da necessidade de "revolucionar" o M.E., sentida por diversas pessoas que, cada uma a seu modo e em seus meios, tentavam no dia-a-dia realizar ações efetivas no espaço que vivenciavam. Aos poucos algumas pessoas que enxergavam muitas contradições e equívocos no M.E. da Unicamp (entre outros) começaram a interagir ao acaso em vários espaços do (pseudo) Movimento. Disto surgiu a Idéia: depois de discutir muito as estratégias para melhor realizar a idéia, ou seja, para pô-la em prática, resolvemos não participar do processo eleitoral oficialmente. Isto significa que não temos o objetivo de disputar a Entidade (DCE) ou o poder a ela associado, pois sem que esse provenha dos estudantes, de nada adianta aquela; em verdade, em verdade vos digo: adianta a interesses escusos e obscuros. Queríamos disputar o espaço político e para isso resolvemos participar do processo eleitoral informalmente, de forma que pudéssemos apresentar aos estudantes uma alternativa de M.E. legítimo. Queríamos participar para elevar o nível da discussão e do debate, levantando questões que acreditamos realmente relevantes para os estudantes e questionando criticamente a postura, métodos e atuação dos diversos grupos políticos que tentam se apropriar do M.E. para fins claramente não estudantis.
Tínhamos claro também que, assim como nós nos conhecemos, sabemos que há muitos que se identificam com esta idéia e pensam também dessa forma, mas que estão atuando isoladamente em seus cursos, institutos e salas; e é principalmente com estas pessoas que estamos interessados em dialogar, pois as outras (grupos políticos obscuros) não merecem nossa atenção já que acreditam que os Estudantes servem para legitimar o que eles querem, enquanto todos nós sabemos que eles só existem se, e somente se (e enquanto) os estudantes os quiserem -- ou pelo menos aceitarem -- por lá...

Apenas começamos...
Enfim, a Anti-Chapa é apenas um simples, legítimo e verdadeiro Movimento Estudantil, em que pessoas divergem, em que há níveis de esclarecimento distintos, em que há diversos domínios de conhecimento; um movimento em que não há padrões ou convenções, a criatividade em forma de Movimento ou o Movimento em forma de ação, baseada em coerência, pensamento sempre crítico, organização, respeito, igualdade, ou seja, um movimento sem hierarquia onde a representação (ou os representantes) jamais está acima dos representados, porque são esses últimos que realmente decidem (ou pelo menos deviam) os rumos do Movimento Estudantil e os representantes devem sentir-se honrados e ter consciência e responsabilidade suficientes para poderem ser dignos de representá-los!!!
Em suma, a Anti-Chapa veio para questionar tudo o que pseudo-existe e chamar a todas e todos que tenham sido capazes de compreender a Idéia para juntos construir, no mínimo, um verdadeiro Movimento Estudantil... também esperamos que mais pessoas juntem-se à Idéia para continuarmos a congregar mais e mais pessoas em torno desta e continuarmos a construir a mesma Idéia! E até lá... que tomem cuidado aqueles que tentarem nos enganar, nos usar, ou simplesmente nos ignorar...

"Porque nós não viemos pra dizer como isto termina, mas pra dizer como vai começar" -- Neo

Macunaíma: a Anti-Chapa sem caráter

Glossário:
Coisa: boa pergunta.
Revolucionar: transformar algo radicalmente *não confundir com:
Pseudo-Revolucionar: "encher o saco aleatoriamente" e sentir orgulho disto (uso equivocado, errôneo e descuidado do termo por grupos políticos "radicais" que banalizam o sentido original das palavras);
Radical: relativo à raiz
Farinha: aquilo de que são feitos os diversos grupos políticos que tentam se apropriar do M.E.
A-possível: o mesmo que impossível (o que você esperava?!)
Inércia: tendência de um corpo que está em movimento permanecer em movimento e de um corpo que está parado (ou em repouso), permanecer parado.
Inércia Estudantil: ver Inércia+Estudante-Movimento
Movimento: 1.ato, fato ou efeito daquilo que movimenta ou põe algo em movimento; 2. todo e qualquer corpo, objeto, ou coisa que não se encontra em estado de repouso...
Estudante: ser que se encontra em condição, temporária ou permanente, de estudo.
Movimento Estudantil: aquilo que movimenta e/ou é movimentado por Estudantes...! (parece óbvio?!)
Entidade: saci, mula-sem-cabeça, curupira, Mboi-tata, DCE, CA’s e etc...
DCE: entidade representativa dos (de todos os) estudantes (de graduação) da Unicamp, i.e., instrumento de organização, mobilização, aglomeração e de (simplesmente) ação de estudantes em prol de questões Estudantis (relativo aos estudantes -- v. estudante).
Coordenador do DCE: ainda não esclarecido (vide "O Fato Político", autores desconhecidos, 1a ed. v.1)

anti-chapa Macunaíma
anti-coordenador: Macunaíma
apoiadores: Alan (IC) | Capivara (IE) | Gil (IEL) | Hanson (IC) | Marcelo (IFCH) | Ploc (IQ) | Thiago Smurf (IC) | T (FEEC)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

Uma Noite e Meia

O mais difícil é sempre o começo, então resolvi trazer um pouco do meu passado recente antes de iniciar qualquer debate. Em 2005, eu e mais três colegas (Hanson, Alan e T) escrevemos uma tese sobre Movimento Estudantil. A tese nasceu sem querer, graças a um colega (Diego) que não concorda com metade do que está nela, mas deu o pontapé inicial quando disse na reunião do CACo que deveríamos escrever um texto sobre o assunto.

Obviamente ia dar merda... ainda mais quando um se diz comunista, o outro liberal conservador (pra mim, espião neoliberal, hehe), outro tucano (mesmo) e o último - dizem as más línguas - tende a petista. Naquele mesmo dia saiu o primeiro terço do que poderia ser uma tese, e inspirados naquela campanha e confusão contra o veto do Alckmin no aumento do orçamento para as universidades públicas, arrematamos o que faltava colando uma contribuição minha sobre Reforma Universitária e elaborando uma análise de conjuntura "esquerdizando" os parágrafos do Hanson.

Por fim, precisávamos de um nome. Por uma incrível coincidência, o nome bateu com o tempo que demoramos para escrevê-la. O verdadeiro motivo do nome... tem um sujeito que acha que não devemos contar porque metade da graça (afinal, tudo deve ser pela jocosidade!) é que a vista leiga não entenda e ache a idéia do título babaca. Mas não é muito difícil de descobrir o real motivo... basta cantar entre os dentes... quem descobrir não vai precisar nem confirmar.

A madrugada arrebatadora terminou nessa foto abaixo. Depois disso, tínhamos algumas horas pra coletar 20 assinaturas pra tese entrar pro Congresso. E apesar de ter pedido pra muita gente que nem sequer leu assinar, valeu a pena! Modéstia a parte, pra mim foi a melhor tese. E com relação à norma culta da língua, só perdeu pra do PSTU (que estava impecável).

Disse um monte de asneiras e só não falei o principal... o tema da tese! Reumindo bem grossamente, não é de direita (como muito se caluniou pelos corredores) e não é de esquerda: é a defesa de um Movimento Estudantil de dentro pra fora, com demandas autênticas e sem ingerência externa. Quem pauta é o estudante!














(hanson, eu, alan - casa do hanson - depois de uma noite e meia escrevendo)


Da Conjuntura

A nossa análise de conjuntura começa com um protesto. Por que temos que fazê-la? É lógico que os estudantes devem estar interados da política nacional e se posicionar, mas por que essas posições têm que vir de "cabeças"? Qual é o sentido de uma análise de conjuntura em uma tese estudantil? Por que cada estudante não pode ter um pensamento individual a respeito da situação brasileira, por que tem que ter uma opinião massificada, vinda "de cima"?

Feito nosso protesto, devemos fazer uma análise. Façamo-la e sejamos curtos, pois há muito a dizer sobre a Universidade e o Movimento Estudantil. E a faremos tendo sempre como foco esses processos massificantes da opinião pública.

A política partidária tem tomado conta de todas as relações políticas brasileiras. O homem é um animal político, dizia Aristóteles e, assim sendo, a política é parte grande e importante da vida humana. Hoje, cada partido domina sua rede de movimentos sociais. O PT/PCdoB tem o MST, a CUT e a UNE/UJS consigo. O PSDB tem o MAST, a SDS e a Mica. O PSTU tem a Conlutas e a Conlute, o PDT a Força Sindical e a Força Estudantil, e não pára por aí. Cada partido se candidata ao posto que Gramsci chama de "Moderno Príncipe", tentando moldar a opinião pública a seu favor. Tem lá seus enviados na mídia, nas universidades, nos movimentos sociais, isto é, nos formadores de opinião. A luta pelo poder se deslocou da disputa eleitoral para a disputa, eterna e incansável, da opinião pública. Tomemos como exemplo o PT (e o PT somente porque é o mais visível). Ele alcança sucessos eleitorais a partir da sua inserção na formação de opinião. Víamos professores, atores globais, líderes de sindicatos, cabos do movimento estudantil militando por suas causas dentro e fora do período eleitoral. Dessa forma, o PT conseguiu vender a sua imagem de "partido ético" com sucesso. Com o escândalo do "valerioduto", tudo que vimos foi a estupefação da população e da mídia, que já tinham enganado e sido enganadas com a idéia da ética como intrínseca ao PT. Em 1992, quando Collor foi desmascarado, não houve tamanho espanto, a probabilidade de um político agir de forma corrupta era considerada. Pegaram-no, que o punam. Os anões do orçamento, pertencentes muitas vezes a famosos partidos parasitas, foram descobertos, e não houve surpresa. Com o escândalo dos correios, não se estranhou que as diversas legendas como PP, PL e PTB vendessem suas consciências, o que se estranhou era que o PT que as comprava.

Dentro da batalha midiática, assiste-se a um grande empurra-empurra de quem logra mais derrotas políticas para o outro lado, esquecendo-se de seus programas e convicções. Situações inusitadas como PFL votando pelo aumento do salário mínimo e o PT votando contra, ou o PTB e o PFL junto ao PT impingindo uma derrota na LDO ao PSDB, que está no governo paulista são vistas com freqüência na mídia. Bem que vovó já dizia: "Nada há de mais conservador que um liberal no poder. Nada há de mais liberal que um conservador no poder".


Da Universidade

Seria um universitário apenas mão-de-obra tecnicamente capacitada ou um cidadão em formação? Naquela primeira e restrita visão, o ensino superior se torna apenas uma prorrogação do ensino médio: sem valor próprio, não teria mais relevância do que os outros níveis. A Universidade tornar-se-ia um aglomerado de faculdades. Infelizmente, a falta de capacitação é costumeiramente utilizada pelas classes governantes como pretexto para as mazelas sociais. A atual proposta de Reforma Universitária vem ao encontro dessa idéia, apresentando-se como um emplastro Brás Cubas para os problemas brasileiros, com o lema "Universidade para todos", sem nunca questionar se todos querem a Universidade. Quantas vezes não se vêem famílias pressionando seus jovens para que se matriculem em cursos "rentáveis"?

A concepção da Universidade Pública baseia-se no tripé Ensino, Pesquisa e Extensão, complementarmente integrados e sem privilégio de um em detrimento de qualquer outro.

Muitos docentes enxergam um tripé desigual, no qual a graduação é vista como um "mal necessário". Muitos estudantes compactuam com essa concepção ao admitirem e até incentivarem professores "coxas". Apesar de ser função do corpo docente zelar pela qualidade do ensino, muitos falham. Os alunos, que deveriam formar a linha de defesa do ensino, acabam apenas prestando atenção se o método avaliativo é exigente ou não, e procurando brechas que os levem ao tão sonhado diploma. Transparece o descaso com o ensino quando muitos docentes, contratados por seus méritos na pesquisa, não se dão ao trabalho de receber algum treinamento pedagógico que garanta cursos de boa qualidade.

Por outro lado, a pesquisa, que é privilegiada sempre que possível (e é o que garante honra e glória aos docentes), acaba várias vezes sendo ditada pela iniciativa privada, ou pela autoridade estatal. A Universidade é livre: nem estatal, nem privada, mas pública. Se a pesquisa universitária é pautada por empresas, setores importantes, como a pesquisa básica, são deixados de lado pelos ganhos imediatos trazidos pela pesquisa tecnológica e pela "inovação". Isso leva ao esgotamento tecnológico, pois não há novas bases para sustentar prováveis novas tecnologias. Em muitas universidades ditas públicas, a pesquisa acaba sendo prejudicada pelas demandas constantes dos governos por projetos de fins políticos.

Não servindo como mero centro de formação tecnológica, nem pragmatizando suas pesquisas, a Universidade é um fim em si mesma? A Extensão Universitária teoriza transformar e transmitir os conhecimentos produzidos e assimilados na Universidade à sociedade, seja o Estado, as empresas, ou a população em geral. Essa atuação inclui a prestação de serviços profissionais nas áreas de conhecimento da Universidade, como consultorias técnicas, administrando ou mantendo hospitais públicos da região, dispondo de escolas livres acessíveis à população, debatendo com a comunidade seus problemas e interiorizando isso em grupos que busquem compreender esses problemas e propor alternativas para sua solução.

Trocando em miúdos, um projeto de Reforma Universitária (ou Previdenciária, por exemplo) que emane da Universidade pode ser visto como extensão. Da mesma forma, se caracterizam como extensão as empresas juniores, a incubação de empreendimentos e parcerias de capacitação (como reciclagem de professores). Uma "escola de extensão" que sirva aos propósitos de engorda de conta bancária de professores (obviamente com o tempo contabilizado em suas cargas horárias) através do bem público não só é inaceitável como também se configura uma hipocrisia chamá-la de extensão.

A inovação tecnológica com o fim de geração de patentes é um paradoxo quando feita pela Universidade Pública, pois implica em patentear algo desenvolvido usando-se do dinheiro dos contribuintes. A situação se agrava quando há a instalação de laboratórios para pesquisas com fins privados e sigilosos, verdadeiras filiais das empresas envolvidas, utilizando-se de estrutura pública como salas, estudantes estagiários e professores responsáveis. Não que as empresas não devam participar da Universidade, mas elas não podem ditar seus rumos.

O Governo Federal, no tocante à Universidade, adota medidas de curto prazo (como cotas e o PROUNI), que não solucionam o problema na raiz, no máximo amenizam garantindo ganhos eleitorais. A natureza meritocrática da Universidade simplesmente foi ignorada através de soluções que em nenhum momento procuraram estabelecer meios de garantir igualdade de condições (em outras palavras, ensino público de qualidade desde o princípio); o que não é apenas uma questão de legitimar o acesso à mesma, mas também uma necessidade para que os ingressantes possam de fato ter condições de desfrutá-la.

Fica claro que defendemos uma Universidade autônoma e livre, sem ingerência de qualquer espécie. Por autônoma, entendemos uma Universidade com financiamento público que a liberte do capital privado sem a submeter a interesses estatais, com total liberdade de escolha de seus caminhos. O movimento estudantil tem grande importância na pressão por melhoria de currículos, da qualidade de ensino e por uma avaliação justa das atividades docentes.


Do Movimento Estudantil

O que é movimento estudantil? O que vem à sua cabeça quando você pensa em movimento estudantil? Pensou? Isso que você pensou não tem nada a ver com você, certo? Por quê?

Desde o fim da ditadura e da queda do muro de Berlim o movimento estudantil perdeu suas maiores bandeiras. Até 1967 o movimento estudantil ainda existia de forma autônoma, apesar de muitos movimentos terem vínculos com alguns partidos. Depois do famoso Congresso de Ibiúna, o Movimento estudantil autônomo se desarticulou, sendo trocado por movimentos de fachada ligados ao governo. Apesar disso, começaram a surgir movimentos estudantis paralelos contra a ditadura, cujo grande foco era exatamente esse, lutando pelo retorno do regime democrático ou, em muitos casos, pela revolução de cunho marxista.

Com a anistia e a volta das eleições diretas, o primeiro e principal objetivo se sublimou. E depois, com a queda do muro de Berlim e a conseqüente perda de crédito no socialismo real, o movimento pela revolução socialista perdeu muita força. Desde então, o ME vem se agarrando a causas muitas vezes impertinentes às necessidades estudantis.

Aproveitando-se desse vácuo de objetivos, as bandeiras do movimento estudantil começaram a se confundir com aquelas de muitos partidos políticos. As disputas estudantis pautaram-se, então, por correntes de pensamento político-partidário e muitas vezes se assemelham às de torcidas organizadas. Experimentou-se, portanto, uma perda total do foco estudantil do movimento. Bandeiras, como a melhoria do ensino, são esquecidas em prol de outras não tão ligadas aos estudantes e manifestações um tanto quanto excêntricas, como apoio ao governo.

A nova cisão do movimento estudantil não é aquela esquerda-direita de outrora, pautada pela discussão, mas uma nova, de palavras de ordem, pautada pelo berro. Ainda há, contudo, de forma mais grave e profunda, uma divisão entre aqueles que apóiam e aqueles que são contra o movimento estudantil dentro da própria comunidade discente. Mas como? Afinal, o ME não foi criado para representar os próprios estudantes? Como um estudante pode ser contra ele?

A resposta é simples. O movimento estudantil não existe mais!

O nosso exagero retórico acima é proposital, mas, de fato, o movimento estudantil existe quando estudantes se agregam na condição de estudantes por uma causa comum. Quando estudantes se unem, a uma só voz, contra imposições docentes, aí vemos movimento estudantil. Quando podemos ver essa metonímia do "EU, estudante", o ME acontece. Se as causas são partidárias, elas não são estudantis (a motivação é externa ao movimento). O movimento fica desfigurado, dividido entre os contrários e os favoráveis e, nesses últimos, fraturado entre as correntes partidárias, para cada qual há "um novo ME".

Temos então um ciclo vicioso: o movimento se divide porque está desfigurado, e desfigura-se porque está dividido. Cada feudo novo defende seu pedacinho de "verdade" e perde-se a unidade do movimento que se enfraquece. Decisões verticais são calmamente tomadas pela direção da Universidade, pois não haverá resistência. Toda resistência possível já estará cega, digladiando entre si. Depois de anos de guerra entre Atenas e Esparta (mais precisamente, entre as ligas de Delos e do Peloponeso), a Grécia foi facilmente dominada pelos macedônios.

Dessa forma, aos poucos atitudes despóticas são cada vez mais aceitas como normais pelos estudantes. Prefere-se aceitar as determinações institucionais a unir-se a grupos partidários que teoricamente representariam os estudantes.

Assim, a Universidade Pública, em que se pressupõe uma participação social na construção, passa a ser apenas uma Universidade estatal. Não há mais o desejo por construí-la, mas sim o de conseguir o carimbo reconhecido em seu diploma como se fosse um selo de qualidade.

É necessária, para a reativação do movimento, a adoção de bandeiras coesas com os interesses reais dos estudantes, dentro do contexto em que estamos. Isso inclui lutas pela infra-estrutura, qualidade de ensino e currículo, extensão universitária adequada a seus propósitos, garantia de condições dignas para estudantes, honestidade docente quanto ao ensino e à avaliação, entre outras demandas tão comuns ao estudante, que não seriam defendidas por um partido político. É imprescindível que esse movimento tenha sua origem dentro do corpo estudantil, partindo de cada estudante, de cada Centro Acadêmico, e que se acabe com essa hipocrisia dos líderes estudantis que criticam as decisões "de cima para baixo" enquanto praticam, no âmbito da política universitária, as determinações de seus partidos. É importante, nessa nossa proposta, que os DCEs e os Centros Acadêmicos não atuem submetendo o real movimento estudantil a seus caprichos, mas sim como escudos e instrumentos a seu favor.