sábado, 18 de fevereiro de 2006

Fátima e a Cruz na Porta da Tabacaria

" Cruz na porta da tabacaria!
Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Ao diabo o bem-estar que trazia.
Desde ontem a cidade mudou.

Quem era? Ora, era quem eu via.
Todos os dias o via. Estou
Agora sem essa monotonia.
Desde ontem a cidade mudou.

Ele era o dono da tabacaria.
Um ponto de referência de quem sou
Eu passava ali de noite e de dia.
Desde ontem a cidade mudou.

Meu coração tem pouca alegria,
E isto diz que é morte aquilo onde estou.
Horror fechado da tabacaria!
Desde ontem a cidade mudou.

Mas ao menos a ele alguém o via,
Ele era fixo, eu, o que vou,
Se morrer, não falto, e ninguém diria.
Desde ontem a cidade mudou.

(14-10-1930) "
Cruz na porta da tabacaria!
(Álvaro de Campos -- Fernando Pessoa)

Não sou um grande fã de Fernando Pessoa... mas esse poema sempre me faz pensar na mesma coisa... nas doenças pulmonares! No preço de nosso modo de viver, na inexistente paz que imaginamos defender sem pensar o que está embaixo de nossos sapatos nesse momento. A Muralha da China é um cemitério ao ar livre dos corpos daqueles que foram obstáculo à sua construção. Mas nem sempre os ossos precisam estar dentro do concreto para que seu sangue derramado marque para sempre a ganância de uma sociedade.
















(cruz na porta da tabacaria?)


" Vocês esperam uma intervenção divina
Mas não sabem que o tempo agora está contra vocês
Vocês se perdem no meio de tanto medo
De não conseguir dinheiro pra comprar sem se vender
E vocês armam seus esquemas ilusórios
Continuam só fingindo que o mundo ninguém fez
Mas acontece que tudo tem começo
E se começa um dia acaba, eu tenho pena de vocês

E as ameaças de ataque nuclear
Bombas de nêutrons não foi Deus quem fez
Alguém,alguém um dia vai se vingar
Vocês são vermes, pensam que são reis
Não quero ser como vocês
Eu não preciso mais
Eu já sei o que eu tenho que saber
E agora tanto faz

Três crianças sem dinheiro e sem moral
Não ouviram a voz suave que era uma lágrima
E se esqueceram de avisar pra todo mundo
Ela talvez tivesse um nome e era Fátima
E de repente o vinho virou água
E a ferida não cicatrizou
E o limpo se sujou
E no terceiro dia inguém ressuscitou "
Fátima
(Flávio Lemos, Renato Russo)

Agradecimentos:
http://www.secrel.com.br/jpoesia/
http://membres.lycos.fr/wotraceafg/
http://www2.uol.com.br/capitalinicial/

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