quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Moral para Todos os Males

" Eu tenho vontade de quebrar o vidro,
Ele não é a paisagem que vejo,
Suas manchas me iludem,
Por vezes se confundem com a paisagem.

Eu tenho vontade de quebrar o vidro,
Muitas vezes olho por ele e vejo coisas que parecem reais...
São manchas... eu deveria olhar noutro ângulo,
Então eu veria mais, mais, bem mais.

Eu tenho vontade de quebrar o vidro,
Tenho vontade de correr pela grama,
De sentir o vento encher meus pulmões,
De estar junto ao que tanto desejo, espero e sonho.

Esse vidro, quem colocou esse vidro!
Quem manchou e depois mais ou menos limpou esse vidro?!
Eu tenho vontade de quebrar o vidro!!!
Mas espero olhando na porta;
Espero, espero muito, até que ela se abra.

Ah! Se a porta se abrisse!
Então eu não teria vontade de quebrar o vidro.
Eu sei que ela vai se abrir.
ELE vai abrir e nós três vamos cear.

Eu não tenho vontade de quebrar o vidro.
..."
(A ovelha do meu PASTOR.
leo mondim)

O que é o Vidro?

Mandou bem na pergunta! Vou tentar responder: esse poema possui várias interpretações pq existem várias leituras, todavia como eu escrevi pesa sobre mim o que motivou-me, pois bem, na lingüística estudamos algo que se chama teoria dos signos. De acordo com essa teoria todo signo é constituído pelo significado e pelo significante, mas sem que estes elos tenham qualquer ligação real entre sí - excluo em certa medida as onomatopéias. Isto é, qual a relação da palavra árvore com o objeto propriamente dito? Eu poderia por exemplo chamar tranqüilamente um cachorro de árvore e uma árvore de cachorro sem que houvesse qualquer problema, mas não posso fazer isso apenas por uma questão de contratos sociais - excluindo é claro situações de licença como produções artisticas e nomeação de filhos (lembro-me de um caso em que o pai registrou três filhas como "Xerox, Fotocópia e autenticada", parece brincadeira, mas é sério. Assim palavras ("""""símbolos""""") são os significantes que servem como referencias para a conceituação (significação) dos verdadeiros referênciais... O vidro é isso: é algo através do qual posso aparentemente ver a realidade, ao ponto de dizer que o que vejo é real, quando na verdade "vejo coisas que parecem reais", pq na verdade não vejo as coisas, vejo o vidro que acaba por interferir na minha experiência com a realidade que não conheço - por isso "tenho vontade de quebrar o vidro", mas não sei o que realmente há do outro lado, tenho impressões vagas que me são passadas pelo vidro. Agora minha pergunta para você é: supondo que você desejasse quebrar esse vidro, qual é para você o nome do conceito existente do outro lado - e que pode ser atingido com a abertura da porta?
(Comentários do autor da poesia)















(um quadro de um museu de Ubatuba)


O vidro... essa hipocrisia colocada entre a busca e a certeza. A porta... o pensamento que liberta, a chama de Prometeu, uma verdade para pesar em nossos ombros - sua travessia é uma jornada só de ida. Olhando pelo vidro, depois de passar pela porta, muitas vezes nos estarrecemos indagando por quê aquela gente que ainda está do outro lado não "cobre suas vergonhas", não se desprende de parte de seu misticismo e vislumbre pelo desconhecido. Mas, logo à frente, encontraremos outro vidro, outra porta e talvez outra testemunha do outro lado admirando nosso atual formigueiro. Existe muito a se descobrir - no mundo e em nós mesmos.

O que nos sufoca? Até onde resolver isso está ao nosso alcance? A Fé seria a confiança no futuro, ou a crença de estamos amparados mas não isentos do dever de lutar? Existe merecimento sem busca? Muitas vezes queremos o impossível. Em outras, apenas estamos olhando a coisa pelo vidro mais sujo. É natural das naturezas fracas sujar o vidro conforme sua cegueira ou seu olhar de raposa - limitar o alcance de seus semelhantes e estabelecer moral para todos os males, como se sua fraqueza fosse uma regra geral da sociedade.

Os adornos impostos à Fé constituem o pior dos desgastes que ela poderia experimentar. Chega-se ao ponto de tudo ter uma resposta - mesmo que amanhã ela seja o contrário da de hoje. Então por que tê-la com tanta veemência? Por que tratar ao próximo como a um incapaz e isentá-lo de seus erros tomando a escolha para si, mesmo que não se possa provar a corretude dessa escolha? Quem aprende a pensar abre a porta, quem aprende a ouvir olha pela janela - incerto da sujeira.

Um comentário:

Anônimo disse...

Reflexão confusa essa em!? Mas ajuda a entender um monte de coisa que normalmente enfrentamos atraves do vidro, pois temos medo de abrir a porta.
Só que não adianta abrirmos a porta e não estarmos pronto pra encontrar mais um vidro ou ate mesmo outra porta depois da que abrimos.