sexta-feira, 28 de julho de 2006

Eu Também Vou Reclamar! - ou O Retorno dos Chipmunks - ou Comissário, a 89 Nos Traiu!

" Toca Raul! "
Autor desconhecido

Haviam assuntos mais relevantes e menos óbvios que eu gostaria de tratar no meu blog; mas, infelizmente, meu livro do Nietzsche sumiu e eu tô com uma puta vontade de escrever. Sem nada mais o que dizer, e sem querer soltar nenhum palavrão como naquela famosa musiquinha, eu resolvi ser chato e ponto. A 89 resolveu dormir de calça jeans pro resto da eternidade, e eu já pedi o divórcio. Agora vou falar sobre os podres engasgados desse casamento... e sobre o que calhar no caminho.

Essas mudanças "radicais" na programação não assustariam em qualquer radiozinha maria-vai-com-as-outras, mesmo porque outras rádios já haviam feito isso e ninguém falou muito. Mas é como o lance do mensalão (parafraseando Uma Noite e Meia): o estranho não era saber que certas legendas vendiam suas consciências - e sim que o PT é que as comprava! Fica nítido que o ideal do lucro é muito mais latente que a própria missão da rádio, e isso é de deixar qualquer um puto.

Agora uma galerinha no orkut fica perseguindo o "enviado do mal" que controla as comunidades oficiais da rádio e, segundo alguns, apaga protestos sobre a mudança. Nessas horas eu quero virar pro meu colega Hanson e dizer: "dá-lhe capitalismo!". Contribui deixando um recado jocoso para o rapaz que dizia no próprio perfil que trabalhava na "rádio rock". E nessas horas vem aquele grande dilema moral - mas coitado dele, ele está fazendo o trabalho dele, não tem culpa - e é exatamente aí que eu bato palmas pra Thoreau, quando ele diz ao cobrador de impostos que, se ele quer realmente fazer alguma coisa útil, que peça demissão do emprego.

Precisamos desmitificar esse lance de poderosos malvados e ver que a sujeira começa mais embaixo, naqueles que cumprem suas ordens, afinal um poder só existe se é reconhecido. Enquanto portar essa ingenuidade de teoria de conspiração, nosso povo vai estar a mercê de qualquer minoria e será sempre pego desprevenido. Fiz isso semana passada com o atendente do Citibank, em sua milésima ligação para tentar mandar um misterioso cartão de crédito pra casa... não, eu não mandei ele se demitir... só disse que abriria processo por correspondência não solicitada e por perseguição. Ele tem lá suas razões pra dizer que cumpre ordens, mas é caminhando nesse sentido que o carrasco recebe a indulgência e uma estupidez coletiva pode ser farseada como arrogância de uma única cabeça.

Retrocedendo ao assunto de dois parágrafos atrás...
Mas o que era aquele "rock" que tocava pouco antes de começar a tocar qualquer coisa? Aquela confusão infanto-juventil emo x HC? Isso pode ser muita coisa, muita mesmo - aquele amontoado de bandas pré-fabricadas, com letras moldadas pela gravadora, que já assinam o contrato decepcionando os fãs da era independente. Letras tão precisas quanto rentáveis, que parecem ter saído de um laboratório psiquiátrico secreto e anti-ético, como aqueles que dizem que testavam pessoas na Segunda Guerra. Aquele sonzinho barulhento e frenético, apelação emotiva e jargão pseudo-politizado... e pensar que eu achava RPM o fim da picada!

"Shut up", do Simple Plan (acho que Plain seria mais significativo), me soa como a vinheta de um desenho animado que passava há muito tempo no SBT, dos Chipmunks. Aquela bicharada gritando em voz aguda era muito parecida com o lance frenético dessa música.

Acho que eu estou ficando velho mesmo. No meu tempo de colégio não haviam emos, mas clubers! Bom, agora tem também um monte de gente se achando punk. Acho que eu já fui punk há alguns anos... eu andava com umas camisetas aleatórias (em especial aquelas com coisas de surf escritas), cuidava muito mal da aparência (às vezes tirando o cabelo e uns perfumes) e minhas calças eram rasgadas (por excesso de uso). O engraçado é que eu não fazia nada disso porque era "punk", ou achava legal. Eu fazia isso porque me sentia bem, e nem ouvia Ramones ou nada assim.

Nada melhor que Raulzito pra fechar esse Coringuês de "Pois é, minha filha, tô ficando velho..." e falar sobre essas ondas hilárias recheadas de incoerência...

" Mas é que se agora
Pra fazer sucesso, pra vender disco
de protesto
Todo mundo tem que reclamar
Eu vou tirar meu pé da estrada
E vou entrar também nessa jogada
E vamos ver agora que é que vai aguentar
Porque eu fui o primeiro
E já passou tanto janeiro
Mas se todos gostam eu vou voltar
Estou trancado aqui no quarto
De pijama porque tem visita estranha
na sala
Aí, eu pego e passo a vista no jornal
Um piloto rouba um "mig"
Gelo em Marte, diz a viking
Mas no entanto não há galinha em
meu quintal
Compro móveis estofados
Me aposento com saúde
Pela assistência social
Dois problemas se misturam
A verdade do Universo
A prestação que vai vencer
Entro com a garrafa de bebida enrustida
Porque minha mulher não pode ver
Ligo o rádio e ouço um chato
Que me grita nos ouvidos
Pare o mundo que eu quero descer
Olhos os livros na minha estante
Que nada dizem de importante
Servem só pra quem não sabe ler
E a empregada me bate à porta
Me explicando que está toda torta
E já que não sabe o que vai dar pra mim comer
Falam em nuvens passageiras
Mandam ver qualquer besteira
E eu não tenho nada pra escolher
Apesar dessa voz chata e renitente
Eu não "tô" aqui aqui pra me queixar
E nem sou apenas o cantor
Que eu já passei por Elvis Presley, imitei
Mr. Bob Dylan
Eu já cansei de ver o sol se pôr
Agora eu sou apenas um latino-americano
Que não tem cheiro nem sabor
E as perguntas continuam
Sempre as mesmas, quem eu sou
De onde eu venho
Aonde onde eu vou dar
E todo mundo explica tudo
Como a luz acende como um avião
pode voar
Ao meu lado um dicionário
Cheio de palavras
Que eu sei que nunca vou usar
Mas agora eu também resolvi
Dar uma queixadinha
Porque eu sou um rapaz
Latino-americano que também sabe se
lamentar
E sendo nuvem passageira
Não me leva nem à beira disso tudo
Que eu quero chegar
E fim de papo "
Eu Também Vou Reclamar
Raul Seixas e Paulo Coelho

PS: Pra quê refrão?

5 comentários:

Anônimo disse...

Acho que alguém dormiu com a bunda descoberta hahahahaha isso meu vô me diz toda vez que eu acordo de mau humor.

Frango aposto com você que se você tivesse que receber o dinheiro do imposto e ficar rico com isso ia fazer se o seu funcionario não fizesse PAU NO CU dele, pois ia sobrar mais dinheiro pra você.
Querer ter dinheiro não é problema, o problema é não saber usar o dinheiro que tem.

smurf disse...

PQP... vc é capaz de um comentário melhor, né não? A questão não é o dinheiro que um ganha, mesmo porque não estou discutindo a moralidade do beneficiário, mas sim a sujeição dos demais. Um papel dizendo que você é dono de metade do mundo só é válido se essa metade do mundo concordar com você.

Anônimo disse...

Rapaz, eu tenho culpa do que eu pensei sobre seu post!?

Se a 89 mudou o estilo ou você ouve o novo estilo ou muda de radio, ate parece que isso vai ser o fim do mundo.
Se quem tem mais papel no bolso consegue mais coisas, acho que o que deve ser feito é correr atras desse papel de uma maneira digna, justa e honesta para também ter as coisas, não que eu seja a favor disso, mas é o que acontece e ficar lutando contra isso é dar muro em ponta de faca!

smurf disse...

Exato! Temos um sistema complicado, e que se torna instável se não tivermos valores que guiem nossas ações. É nesse sentido que devemos ter algum comprometimento com aquilo que nos projetou para o mundo, o que não é feito quando negamos nossas próprias origens. Vide nosso querido PT no poder, que cuspiu na cara de todo mundo (exceto do FMI & família).

São nos pequenos exemplos, como o da 89, que vemos como o interesse financeiro sobrepõe os demais, acabando com nossa própria identidade em troca de mais poder (poder... pra que?).

O exemplo do papel não era ao pé da letra, mas num sentido mais amplo, como na legislação. Uma lei pode ser injusta, mas não tem validade se a população assim não quiser. Por exemplo, uma Assembléia da Unicamp na campanha do veto deliberou um novo piquete e panelaço no Campus. Entretanto, a votação apertada esfriou os ânimos, e aquele pessoal que nunca ia a uma Assembléia e esteve presente naquela só para dizer "basta" ganhou, mesmo que com uma leve minoria numérica.

É muito provável que não exista um sistema perfeito, mas aceitar o que temos sem um regime ético suficiente é abandonar as coisas ao "deus-dará".

Anônimo disse...

"É muito provável que não exista um sistema perfeito, mas aceitar o que temos sem um regime ético suficiente é abandonar as coisas ao "deus-dará".

Meu Deus...você ainda tem duvida que NÃO existe um sistema perfeito!?
Talvez o seu sistema pefeito seja feito de algaritmos, equações, e outras coisas que podem ser resolvidas com tempo/paciência.