domingo, 30 de julho de 2006

A grande pressa urgentíssima do nada

" Não: devagar.
Devagar, porque não sei
Onde quero ir.
Há entre mim e os meus passos
Uma divergência instintiva.
Há entre quem sou e estou
Uma diferença de verbo
Que corresponde à realidade.

Devagar...
Sim, devagar...
Quero pensar no que quer dizer
Este devagar...
Talvez o mundo exterior tenha pressa demais.
Talvez a alma vulgar queira chegar mais cedo.
Talvez a impressão dos momentos seja muito próxima...

Talvez isso tudo...
Mas o que me preocupa é esta palavra devagar...
O que é que tem que ser devagar?
Se calhar é o universo...
A verdade manda Deus que se diga.
Mas ouviu alguém isso a Deus? "
Não
Álvaro de Campos





Algumas vezes esquecemos que podemos escrever tudo de novo, do zero, sobre o que quisermos. Nos contentamos em lutar por uma vaga de deputado para propor emendas e remendos constitucionais no bonde que sempre pegamos andando. Vivemos uma vida baseada em um molde, absolutamente sem querer. Olhamos ao redor para escolhermos o que queremos ser, olhamos para dentro e preferimos não olhar. Vivemos de palavras, de vistas, de diferenças.

Esqueçamos as regras - façamos as NOSSAS regras. Joguemos ao fogo todo imperativo que controle nossas vidas, mesmo esse texto tão imperativo em abandonar os imperativos. Vamos achar graça das coisas e conversar. Vamos contemplar nossos sonhos perante nós mesmos. Façamos em nós nossa própria medida, sem esperar o dia do mérito, o dia que esqueceremos que existimos sozinhos.

O espelho machadiano nos visita a cada curriculum vitae entregue. E se convencemos entregando nossos melhores dias ao nada, será que nossa vida foi tão intensa quanto aquele monte de porcas e parafusos que nos galga posições no mata-mata?

Gostaria de terminar dizendo carpe diem, mas virou clichê. Mas... clichê com relação a quem?

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