terça-feira, 7 de março de 2006

Em Algum Lugar do Passado...

" NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho! "
Lisbon Revisited (1923)
Álvaro de Campos














(as origens do Smurf)

Estava devendo um post, mas início de semestre é sempre a mesma correria.

Ver toda essa bixarada faz a gente lembrar quando esteve do outro lado do trote, e de tudo que aprendeu e construiu desde então. Essa poesia, escolhida pseudo-aleatoriamente com algum acaso do destino, fala muito do que eu entendo por essa construção pela qual passamos ao entrar pra faculdade, morar longe e passar pelos apuros que cada um é destinado em sua caminhada.

E não deixa de ser jocosa também!

Um comentário:

Anônimo disse...

Ae!

Seguinte, eu não entendo você! Vive falando que Fernando Pessoa é ruim, que tem melhores, mas já é a segunda poesia de um heteronemo do Fernando Pessoa.
Eu como sou fã de Fernando Pessoa e/ou seus heteronemos nem ligo.
Outra coisa eu sou o unico que entra no seu BLOG!? Cadê os comentarios de outras pessoas?

Hoje estou tentando esquecer o passado, viver o presente pra ter uma chance um pouco melhor no futuro. Acho que todos deveriam fazer o mesmo.