sábado, 6 de outubro de 2007

A Criança em Ruínas

Antes de sair jogando as besteiras que escrevo, vou lembrar um pouco de como conheci o autor que me fez escrever o post que vem logo a seguir (bom, na ordem do blog, vai ficar por cima deste na visualização, hehe). Chama-se o gajo José Luís Peixoto. Da primeira vez que ouvi falar dele foi sentando num ponto de ônibus no Largo do Saldanha no meio de uma madrugada de sábado pra domingo, conversando com uma gaja chamada Ana da segunda (de cinco vezes) que a veria. Foi mais um daqueles papos pra perceber que brasileiros e portugueses tem um problema muito parecido, mas diamentralmente oposto: eles vivem de passado, e a gente de futuro (pois é, ninguém fica no presente!). Ela me mostrou a contracapa do livro que ele tinha autografado pra ela:

na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viuva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.

Deixou ele na minha mão, o ônibus chegou (depois de um looongo tempo), e eu fui despedir dela com um abraço de quem não veria mais (a vida pode dar muitas voltas, mas não deixa ainda sim de ser bastante curta, e se tem uma coisa que eu tento "aprender" é a não insistir batendo a cara na parede - apesar de ainda ser bastante tolo para fazê-lo com freqüência!), mas ganhei um beijo meio inusitado e alguém fugiu falando que o livro eu devolvia em outra ocasião (essa sensação de última vez e única chance mexe com a cabeça das pessoas, hehe).

Bom, assim pelo menos eu descobri o segundo nome dela lendo a dedicatória. Acho que consegui ler um terço do livro antes de devolver. Obviamente que metade de tudo que é impulsivo é puramente impulsivo, e esse livro quase voltou comigo pelo chá de sumiço que ela deu. Ainda vi ela uma última vez puramente sem querer na minha última noite no Bairro Alto. Ela disse que depois ia ao Mezcal encontrar a gente, e obviamente eu não esperei por ela porque não ia aparecer mesmo...

Maaas, voltando ao nosso "cara", eu li aquile primeiro terço, tinha até uma interessante tangendo a "Tabacaria" de Álvaro de Campos, e tudo o que eu podia imaginar era um senhor de idade avançada, lamentando por uma vida passada, e não um cara uns 11 anos mais velho do que eu e que publicou aquele livro antes dos 30. Fiquei um pouco passado com essa constatação, mas estado de espírito não refleto muito o físico mesmo!

Um comentário:

Anônimo disse...

Os últimos dias, o ultimato, é a pior, a melhor e a coisa "nada a ver" que pode nos acontecer.

Está acabando, não viverei novamente isso, tudo será diferente, nada vai voltar.

Mas.. tudo acontece naqueles instantes, os insights, a percepção aguçada de tudo o que é bom e que não nos apercebemos antes porque tinhamos "muito tempo".

A coisa nada a ver está na categoria das surpresas demasiado esquisitas para categorizar e que são o máximo! hehehe :P

Testemunho sem noção esse meu, hein? enfim.. to na Lan house, no 1º dia, com meu presente de natal, meu português e feliz da vida!

:*