segunda-feira, 17 de abril de 2006

E aí, empossamos "nossos" RDs?

(minha contribuição ao próximo boletim do CACo)

Como os veteranos devem saber - e os bixos nem tanto - no final do ano passado foram realizadas duas eleições paralelas para a representação estudantil na Comissão Central de Graduação (CCG - orgão máximo da graduação) e no Conselho Universitário (Consu - orgão máximo da Universidade): uma pelo DCE e outra pela Reitoria. Apesar do quórum da eleição realizada pelo DCE ter sido ordens de grandeza maior, foram os RDs da eleição da Reitoria que foram empossados. Após várias manifestações, uma comissão mista procura encontrar uma solução para o assunto (entre os membros da mesma, consta o Diretor do Instituto de Computação: Jorge Stolfi).

Dadas as asserções, gostaria de levantar algumas críticas a ambos os lados desse embate. Começo falando sobre meu próprio voto nessas eleições: votei em ambas. Votei na do DCE por sentir que uma das chapas tinha interesse em colaborar comigo e outras pessoas caso precisássemos de acesso direto ao que acontece nesses órgãos, por exemplo, para averiguar os contratos entre a Unicamp e empresas que ocupam espaços no Campus (uma comissão designada pelo CACo que nunca sai do papel - a "Operação Padre Quevedo"). Entretanto, vi no computeiro Aladin (candidato na da Reitoria) um interesse muito maior em questões sobre a graduação, principalmente porque ele já teve muitos problemas com professores. Anulei meu voto para Consu na da Reitoria com uma mensagem clara: "Validem as eleições do DCE". Mas por que atirar para ambos os lados? Minha resposta é simples: nenhum tem a completa razão, e sequer está perto dela.

É de se ficar abismado a não-identificação de muitos estudantes com seu próprio Movimento Estudantil. E isso acontece por diversos fatores, e em parte é culpa de todos nós que procuramos representá-lo e ainda não conseguimos construir espaços suficientemente adequados para tratar a hetegeroneidade discente. A ingerência de grupos políticos externos piora muito o quadro, em especial quando muitos militantes acreditam que a disputa desses cargos com a reitoria visa prioritariamente uma vitória política e não a representatividade dos alunos nos órgãos colegiados (e creio que é por esta - e apenas por ela - que devamos lutar pelas vagas). Toda essa "politiquez" de nosso Movimento afugenta estudantes interessados naquilo que deveria ser nosso objeto primário: qualidade de ensino e melhoria das condições de nossa Universidade. Na falta de canais e unidade com os próprios estudantes, estes procuram diretamente a Reitoria.

A Reitoria não deixa por menos ao dividir mais ainda nossa unidade tomando para si uma eleição que sempre foi organizada pelos estudantes, sem prévia discussão com os mesmos. Aliás, a primeira eleição validada da Reitoria se deu quando o DCE havia sido deposto por questões relacionadas ao parágrafo acima. Destruída a unidade, sua soma é incapaz de fazer o que ela era capaz antes. A organização estudantil visa o debate e a crítica à Instituição, e não pode ser dependente ou vinculada à mesma. Entendo a organização dessas eleições por parte da Reitoria como uma atitude de não-reconhecimento do próprio DCE, aumentando ainda mais o aparente "atrito" entre ambos os órgãos. É meio difícil aceitar o pretexto de que o motivo é livrar o DCE de um "pesado fardo", pois essas votações ocorrem juntamente com a do próprio DCE, sendo um esforço adicional mínimo. O próprio Stolfi - repito, membro da comissão que avaliária - já se manifestou publicamente contrário a urnas eletrônicas, que constituem o meio pelo qual a reitoria faz muitas de suas eleições.

Esta é uma sinuca de bico mas, dadas as circunstâncias, devemos atender à voz da maioria dos estudantes e validar a eleição organizada pelo DCE. Quando coloco "nossos" RDs entre aspas, faço-o porque nenhuma das duas organizações foi capaz de garantir que essa representatividade seja mais do que algo escrito no papel ou atirado ao vento. Os estudantes devem se organizar como uma unidade maior, fortalecida, capaz de um poder muito maior de persuassão. Cada estudante que participa do Movimento deve assumir o dever de transformá-lo em um espaço cada vez mais democrático frente às diversas concepções de universidade de nosso corpo docente - uma vez que não estamos permeados de "demoniozinhos neoliberais que desejam destruir a Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade". A Reitoria, por sua vez, deveria assessorar o DCE divulgando e incentivando todos os estudantes a participarem das eleições promovidas pela entidade, colaborativamente e sem disputas políticas. Seria o meu um sonho muito distante?

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