terça-feira, 25 de abril de 2006

A Microsoft no FISL

Ao contrário do que prometia a InfoMedia, a presença da Microsoft não mudou para sempre o FISL. Muita gente mal deu bola para o que estava ocorrendo naquele 21 de abril de Tiradentes. Não cheguei a presenciar o Stallman gritando "Libertas Quae Sera Tamen", mas assisti grande parte da primeira entrevista que eles deram naquela tarde (não posso chamar de debate uma mesa consensual). Não pretendo conspirar, nem atacar nenhum "vilão", mas dizer o que entendi das entrelinhas dessa nova abordagem (se é que é nova), e indicar o que considero como real perigo para toda a construção do movimento de software livre realizada até o momento de acordo com essa primeira entrevista.

Peguei a carroça andando, mas de cara já achei interessante a empresa modificar a interface de sua lógica de operação ao substituir o modelo de negócios baseado em licenças para um modelo baseado em "serviços" - um termo que já não será exclusivamente pertencente ao jargão do software livre. Isso confunde um pouco as críticas atuais, mas mostra que o posicionamento dela pouco ou nada mudou, uma vez que esse "serviço" se referiria à utilização de um sistema operacional e um pacote de softwares de escritório remotamente - i.e., fechado e proprietário, sendo pago por tempo de utilização, suscetível à disponibilidade de servidores e - sendo fechado - suspeitamente violador de privacidade, uma vez que o usuário não tem garantias se seu histórico de utilização está sendo monitorado ou não.

Os únicos pontos nos quais vi realmente uma "atitude de sobrevivência" (como muitos conspiraram) foi no ponto em que falaram sobre o oferecimento de uma máquina virtual para rodar Linux dentro do Windows (ainda não formulei uma opinião razoável sobre isso), e sobre um comprometimento a passar a seguir padrões especificados (como de páginas web de acordo com o W3C).

Depois disso veio o que realmente vejo como um perigo em potencial para a manutenção do que temos hoje em dia: a iniciativa de ofecer um portal de projetos em código aberto que, em palavras ditas lá, seria como é hoje o sourceforge. Certamente, por ser provedora do serviço, a empresa poderá estabelecer restrições quanto às licenças utilizadas - até mesmo prevendo um futuro fechamento do código e transferência da propriedade intelectual. Nesse caso, não estaríamos exatamente tendo um portal "livre", mas palavras podem ser sempre capciosas.

Seria então idiota da minha parte achar que um desenvolvedor migraria seu projeto para um serviço caso essas restrições fossem impostas (em um caso hipotético de que isso seja feito). Porém, uma empresa grande - mas (ainda) não tão poderosa financeiramente - como o Google, oferece aos universitários uma proposta (muito interessante, aliás) chamada "Summer of Code", no qual são propostos novos projetos em software livre, ou extensões a projetos já existentes (usando a licença GNU-GPL, por exemplo), e existe um apoio inicial de 500 dólares e um final de 4000 dólares caso o projeto seja concluído. Se o Google pode oferecer esse suporte com o que tem hoje, que suporte não poderia oferecer uma gigante como a Microsoft?

E nisso vem o problema: mesmo que sejam suportadas licenças como a GNU-GPL, o apoio da comunidade a um portal dessa empresa significaria posicionar um icone de oposição aos ideais de software livre como um suporte estratégico e - dependendo das circunstâncias - vital para a manutenção do movimento em um futuro remoto. Fagocitação seria um termo interessante para essa estratégia que remete a polêmicas do passado, como da quebra de rivais oferecedores de sistemas DOS, da Netscape, do enfraquecimento do Winamp e do ICQ: segmentos em expansão são rivalizados e vencidos através de oferecimento casado de produtos e vantagens de aquisição.

Trabalhar em um projeto de código aberto que seja proprietário também poder ser um grande perigo para um desenvolvedor profissional, como já vi frisarem muitas pessoas em eventos como o FISL. Uma vez que você tenha acesso a um código proprietário, estará suscetível a processos por plágio por parte da detentora dos direitos sobre o mesmo. Como não se influenciar e não utilizar futuramente modelos matemáticos e algoritmos? Temos a convicção e amparo legal de que essas coisas não podem ser patenteadas, mas lutamos contra interesses econômicos muito grandes. Logo, a única solução possível é a seguinte: NÃO LEIA CÓDIGO PROPRIETÁRIO.

Não sei quais das marcas acima (ou abaixo) são registradas, mas deixo aqui a nota de que, se forem registradas, pertencem a seus respectivos donos (hehe). Espero não ter causado a impressão de denuncismo, mas apenas a geração de um alarme sobre perigos que rondam um ideal pelo qual eu prezo. Não enxergo uma aproximação real da Microsoft com o que defendemos, e espero que a comunidade tenha os pés firmes no chão diante de qualquer vislumbre que possa surgir.

3 comentários:

Otto disse...

RSS/Atom feed com texto parcial é escroto.

André disse...

RSS/Atom feed com texto parcial é escroto. :P

smurf disse...

Nuss... eu nem sabia que tinha um RSS/Atom feed, quanto mais que o texto era parcial nele, hehehe. Bom, valeu pela dica, e o problema já foi consertado! =)