sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Live or Leave the Dream - 1 ano se passou!

Um ano atrás eu joguei essa frase aqui, lá da biblioteca do IST, ainda meio alucinado de não ter dormido no vôo, ter passado o dia todo atrás de acertar as coisas, com aqueles olhos vermelhos de quem dorme sentado no ônibus e fica com uns lapsos de memória do dia "semi-perdido". Bom, ao menos assim mal tive problemas com o fuso porque acordei bem no sábado. Ainda nesse dia conheci um cara que abriu a porta a pancadas para atender à senhora que cuida da residência, com uma cara de quem estava um tanto passado, meio maluco... pois bem: foi meu colega de quarto nos 10 meses seguintes. Incrível que tanto este quanto todos os companheiros de verdade que conheci por lá eu não dei a mínima da primeira vez que vi - fossem de onde fossem. Alguns tive até uma péssima impressão, que nem o polaco que parecia um computeiro tarado e perdido, mas que foi um cara pra vagar por muitas noites resmungando sobre muita coisa em comum (bom, programar em Java era uma coisa só dele, e falar português era uma coisa só minha, hehehe). Pra não falar de tantos outros... paraibanos, paulistas, africanos, mineiros, e por aí vai...

Mas eu joguei essa frase aqui... e não disse sobre ela mais nada ali. Talvez porque sonho seja isso mesmo: escolha. Você se afunda em alguns pois só assim vai consegui-los, e eu joguei umas coisas bestas que me faziam muito sentido (como me formar logo, partir pro mestrado etc) e fui para um país que conhecia vagamente, sem nem saber direito como o IST era... Fui tentar parar de assistir tanto e viver mais a vida, como alguém havia me dito antes. Voltei com mais incógnitas do que tinha quando fui. Voltei sem muitos planos definidos, com muitas vontades, dividido, confuso sobre as pessoas, confuso sobre mim, mas com uma espécie de - digamos - "sobriedade mental", de não querer acreditar em muita coisa mesmo. Ainda sim na volta perdi noites de sono surpreendido pelo óbvio, cheguei à conclusão de que talvez esse negócio de computação não seja pra mim mesmo, mas que ainda deve ter muito chão pela frente antes de eu ter alguma conclusão para tirar.

Bom, mas era um intercâmbio, não era? Se eu estudei, aprendi, e coisa e tal? Sim, claro! Talvez tenha falhado em uma matéria das sete, mas fiz bastante pelas outras, porém creio ainda que a escola do intercâmbio seja mais outra! Por exemplo, e engenheiramente falando, Álvaro de Campos: antes de ir já gostava bastante, lá continuei esse "vício", e agora na volta entendi uma das últimas paradas dele que ainda me passavam meio distantes- o "cansaço":

" O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço... "

Nesse tempo também resolvi dedicar mais tempo para escrever, de várias formas, mas sobretudo em verso. Eu cá comigo acho que proso melhor do que verso, mas mesmo assim proso muito mal. Mas bem pelo mal, não acredito que a prosa seja tão frutífera e bela, então prefiro perder meu tempo indefinidamente com poesia que nunca termina, hehe. Certa vez comecei a escrever algo - obviamente de madrugada na minha escrivaninha - e aquilo ficou feio (como todo o resto, que sempre fica), mas gostei tanto da última estrofe que achei que ela merecia outras melhores para por junto. Bom, foram sete meses nisso, terminando quando faltavam dois meses para voltar - já o chamava de "comedor de batatas", lembrando do quadro que frustrou e tomou muito tempo de Van Gogh. Essa e mais outras, e todas tão pessoais quanto vagas, que desanimo de jogar aqui. Algumas mesmo ganham novo sentido com fatos que sequer existiam quando de sua criação. Diria que sou adepto da escola do "pessoalismo multi-uso", semeada pelas letras vagas mas específicas de Renato Russso, mas eternizada definitivamente por "Meu Erro" do Herbert Viana. Alguns leitores já viram qualquer coisa, e acho que o maior "elogio" foi quando alguém me disse que nunca esparava algo tão profundo vindo de um computeiro.

Mas eu não só escrevi... acho que também vivi. Sobre aquele lance dos carecas, bom, não sei qual foi o grau de influência, mas tenho sido bem-sucedido aplicando as TIPPQNF em mim mesmo! :D

Também andei muitos dias pensando na vida, nos últimos tempos lá no alto do Parque Eduardo VII, e queria mesmo colocar um poema besta que fiz naqueles tempos sob influência dum escritor contemporâneo meio perdido, mas não está comigo hoje. Olhar fotos desses dias vagando, ou mesmo fotos da galera reunida naqueles tempos hoje me dão um vazio absurdo. Não são os lugares em si, pois o que os lugares me lembram são a mim mesmo em algum estado anterior, e porque sempre eles estarão lá (ok, se você é idiota e quer contestar isso, digamos que a chance é que ambos sumamos antes do lugar sumir, ok? =P); mas a preciosidade dos amigos, essas condições agora serão sempre no máximo parciais porque cada um foi para um canto. Bom, em breve outros tantos daqui se irão, e vamos ficar todos nessa merda viciante chamada internet fuçando orkuts, blogs, mandando mensagens enquanto não nos cansarmos da frequencia, e então iremos diminui-la, ainda que com surtos repentinos de aumento, mas sempre tendendo ao sumiço, pois a solidão é uma certeza que quem assume que virá, a todos, sempre, torna-se mais forte. Tenho todos aqui comigo, mesmo os mais distantes, os que nunca tem tempo, os que não consegui encontrar, ou os que vieram só pra me ver em alguma parte e depois ir embora - todos! Mas é tudo mudança, é tudo movimento, é tudo esse grande vazio sendo completado por boas lembranças que valerão reunirmos um dia mesmo os mais ocupados só para rir de novo contando a velha e mesma história, caso isso seja possível, ou mesmo se não puder ser, parafraseando nosso camarada lisboeta acima citado.

Hoje acho que só lembrei da data porque tinha um monte de europeu no bumba que peguei pra SP. Durante algum tempo fiquei tentando advinhar pelo inglês de onde eram e ficou claro que uma falava francês como materna, havia uma italiana, e um lá cheirava a espanhol (não que espanhol cheire bem, afinal os argentinos vieram de algum lugar, e os portugueses bem o sabem! hehe...). Olhei aquela galera, aquela digital alucinada rodando e batendo fotos, e lembrei do fim do filme mais-do-que-citado por quem volta, e que terminava mais ou menos nisso: sempre que você ver um grupo muito sorridente e de bem com a vida, são eles os "erasmus"! :0)

Mas sabe do que mais?

We have to move faster and faster to know where we belong
We need to move faster and faster to know where we must go

A cada leitor deste blog, porta-te bem! ;)

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