terça-feira, 3 de outubro de 2006

Angiosperma Dicotiledônea Cariófila: Abaixo a Média 7!!!

Praça Sérgio Buarque de Holanda, 777 -- um endereço sugestivo.

[Flash-back à nossa tese no Sétimo Congresso de Estudantes da Unicamp. Lisboa? Ainda não descarreguei a máquina, e to correndo atrás de muita coisa pra parar e contar, hehe. Bom, os autores este ano foram o Hanson, eu, o Alan, o Chê e o Gil - não sei se esqueci da colaboração de alguém, mas aí vai...]

TESE

O caderno de teses geralmente é longo, talvez você não tenha paciência de lê-lo inteiro. Além disso, a pressa fez com que o prazo para entrega de teses fosse muito curto (mais que de costume), de forma que a maioria dos estudantes não teve tempo hábil para produzir uma. Tentando auxiliar nesses dois problemas, fornecemos um formulário que permitirá, ao mesmo tempo, você saber o que está escrito nas outras teses (marcando sempre a mesma alternativa) ou montar a sua própria tese dentro dos prazos exigidos, obviamente nos moldes das outras que você encontrará por aqui.

Então, mãos à obra! Monte sua tese!

Conjuntura
O governo Lula
a) traiu a população sucumbindo aos interesses neoliberais,
b) não atendeu às expectativas da classe trabalhadora,
c) tem conseguido grandes avanços no Brasil,
d) é golpista, fascista, conservador, neoliberal,

mas
a) temos uma esperança real de esquerda com a frente de esquerda.
b) não é possível um governo decente na democracia burguesa.
c) as sanhas neoliberais de Alckmin tem piorado a situação.
d) temos que unir a classe operária na revolução.

Contudo, não podemos nos esquecer
a) da luta da juventude pelo passe livre.
b) dos banqueiros exploradores.
c) do imperialismo ianque de Bush.
d) de lutar pelo salário mínimo de três mil reais.

Universidade
A Universidade brasileira
a) Tem sido vítima dos apetites neoliberais.
b) Tem sido vítima dos apetites neoliberais.
c) Tem sido vítima dos apetites neoliberais.
d) Tem sido vítima dos apetites neoliberais.

Precisamos
a) de mais assistência estudantil.
b) de uma universidade popular e de luta.
c) nos unir pelas reformas.
d) lutar pelo socialismo.

A meritocracia
a) é um impedimento dos pobres de estudar.
b) é uma herança do capitalismo selvagem em que vivemos.
c) vem sendo felizmente diminuída pelas reformas.
d) bem... Vamos lutar pela diminuição da jornada de trabalho.

Para melhorar a Universidade
a) precisamos de mais participação social.
b) só o socialismo.
c) precisamos aprofundar as reformas.
d) e... E sem redução de salários!

Movimento Estudantil
A UNE
a) tem servido a uma burocracia sedenta de poder.
b) é podre e não tem salvação.
c) está com os estudantes nas lutas.
d) tem conluio com os interesses neoliberais.

Então devemos
a) vencer suas disputas, e voltá-la para a luta.
b) romper com ela e construir uma nova alternativa.
c) privilegiar seus espaços e participar dela.
d) usá-la em benefício da classe trabalhadora.

O movimento estudantil deve lutar
a) por uma sociedade justa, democrática, de esquerda.
b) pela ruptura socialista.
c) pelas reformas sociais que já vêm acontecendo.
d) pela expulsão dos reitores, para que trabalhadores e estudantes realizem a gestão da Universidade.

ANTÍTESE

Parte I – A estória de Julião.

O estudante "medíocre e alienado" (que vamos personalizar no nome "Julião") está surpreso. Surpreso por não estar surpreso, um sentimento paradoxal que ele não entende direito. Ele não é mais surpreendido por assembléias acaloradas no PB, nem por panfletos criticando ferozmente o DCE ou sua oposição. Julião só vê calmaria. Embora "medíocre e alienado", não lhe escapa o fato de que este é um ano eleitoral, e anos eleitorais costumam ser mais, digamos, tumultuados e aguerridos que os demais. No último ano eleitoral que ele se lembra, a gestão do DCE foi deposta.

Julião lembra que a oposição era chamada, genericamente, de "PSTU". Também lembra que, uma garota que lhe pediu voto lá na engenharia que ele faz (afinal, o arquétipo de estudante "medíocre e alienado" tem que estudar engenharia, para dar mais realidade à nossa construção), essa garota estava numa tal "calourada do PSOL". Medíocre, alienado, mas atento. E como! À noite, enquanto janta, vê no horário político eleitoral (se tivesse TV a Cabo estaria assistindo a alguma série da Sony) uma tal "Frente de Esquerda", unindo PSOL e PSTU. Peraí? PSOL e PSTU? Medíocre, alienado, atento e minimamente inteligente: ele passou no vestibular! Cai a ficha. FIAT LUX.

Bom, ele não quer saber de política. Seu descobrimento ficará engavetado em um arquivo distante da memória. Tudo que ele pensa é na aula terrível que terá que suportar no dia seguinte. O professor não tem a mínima capacidade de explicar. Há um outro professor ministrando a mesma disciplina, mas ele não pode trocar de sala pois o seu professor cobra presença. "Se a alteração de matrícula durasse um pouco mais... Estamos na terceira semana de aula ainda!", pensa. Impotente para resolver isso, tudo o que lhe resta é a festinha do DCE que haverá à noite. No decorrer da noite, ele tem a certeza de que não será impotente.

Julião, medíocre e alienado, atento e inteligente, não quer saber de política mas tem um interesse em uma determinada especialidade de seus estudos. O processo de "não-empurra-que-a-fila-anda" que descreveremos a seguir ainda não o atingiu. Mas dedicar-se não pode. Não o quanto ele gostaria. Os 29 créditos tomam todo o seu tempo, e não vê nenhuma perspectiva de enxugamento do currículo. Novamente impotente, vai gastar sua potência com outras coisas.

Mas dessa vez seu sangue foi usado na cabeça de cima. Depois de chamar alguns colegas, queria comentar tudo isso que ele sofria e como seria bom se eles se juntassem para tentar alguma modificação, algum alívio, alguma melhoria. Ao se juntarem numa sala de aula, depois de encerradas as listas de exercícios, foram expulsos pelo funcionário do campus, que perguntou se eles tinham autorização para usá-la naquele horário e ainda pediu suas identificações.

Julião, medíocre e alienado, atento e inteligente, que não gosta de política mas é um cara de interesse, expulso da sala, perde toda a vontade e resolve que sua potência é só para ser usada na outra cabeça.

A política, para Julião, é aquilo que ele vê nos CAs, no DCE, nas assembléias e debates. Nunca pensou que ele havia começado a fazer uma política muito mais legítima, e como muitos outros juliões, resolveu voltar para o "fluxo natural".

Parte II – O salto ornamental

A Universidade é vista como trampolim social. Ela é o portão dourado das oportunidades financeiras. Esse pensamento nasce de uma análise apressada do uso proxenético que alguns fazem da Universidade, e toma feições ideológicas de interpretação parcial da realidade. O fantoche de ideologia criado no seio da Universidade mesma se expande para fora dela, frutificando aberrações ainda mais divertidas. A interpretação da Universidade como trampolim social, criada pelos acadêmicos iluminados, se espalha pela sociedade como uma verdade em-si, criando a sub-ideologia do "mamãe-eu-quero-formar". Isso posto, forma-se a fila para uso do trampolim: e a espera é de "duros e longos 4, 5 ou 6 anos".

Surge então, a genial idéia: vamos dar cotas para negros e afrodescendentes (aproximadamente 95% da população brasileira, segundo estudo do finado sociólogo Otávio Ianni, do IFCH). Assim, eliminamos as desigualdades raciais criando uma elite intelectual (e, portanto, financeira) afrodescentente. Só faltou explicar como a existência dessa elite conseguiria tal feito, nem sequer como evitar o agravamento do racismo quando a lei passa a ser diferente para alguns. Seguindo uma linha um pouco menos incoerente, por que não estabelecer cotas raciais para vereadores e deputados?

Como o governo, na figura do MEC e dos mecanismos avaliativos, imputa à escola superior uma gama de exigências formativas, a Universidade cumpre essas ordens. Contudo, não há a contrapartida do interesse científico, já que a idéia dos alunos já vem voltada para ascenção que trará o diploma. A fila tem que andar e, andando, vai seguindo unicamente as exigências dadas. A Universidade se torna um "escolão técnico": sem pensamento, sem ciência, sem pesquisa. O jovem lança-se ao mundo sabendo a técnica só dentro da técnica. Fora disso ele é um doido com todo o direito a sê-lo. Com todo direito a sê-lo, ouviram?

Por outro lado, ironicamente, muitos dos responsáveis pela definição da ideologia saltitante tentam fazer outro uso da Universidade: o de célula revolucionária. Usando as estruturas materiais e de influência da Universidade, pretendem usá-la para os seus fins políticos, sejam quais forem, desde a "construção do socialismo", passando pelo "amoldamento do senso comum" e chegando à mera disputa de cargos eletivos.

O sentido de Universidade não é algo estático e imune à rediscussão, não sendo necessário nos prendermos ao sentido original de Universidade, surgido no início do segundo milênio. Contudo é impossivel dissociar a Universidade do conhecimento, e este último do ensino e da pesquisa livres. Ao prender o ensino e a pesquisa a certos esquemas fixos de pensamento de direita ou de esquerda, ou ao querer tirar dos docentes o seu devido valor, diminuindo sua importância, fugimos de uma "cláusula pétrea" da Universidade. Já vemos hoje a perversão seja para a "escola de formação de militantes", seja para o "curso profissionalizante para o mundo corporativo". E não me venha com conclusões, a única conclusão é morrer!

Parte III - Epílogo de Julião

E voltamos a ele, que não precisa ser ele-mesmo: Julião, medíocre e alienado, atento e inteligente, que não gosta de política mas é um cara de interesse, é de fato um pouco ignorante. Não o culpamos. Ele não sabe o que é movimento estudantil, confundindo esse conceito com o seu também confuso conceito de política. Se chamamos sempre alface de fruta, para nós ela é uma fruta, por mais que objetivamente não seja. Movimento estudantil para Julião é o que ele vê, é a realidade objetiva que ele observa, mesmo que a relação signo-significado seja aí baseada numa falácia.

Por um curto período de tempo, Julião cogitou fazer um verdadeiro movimento estudantil: de estudantes, para estudantes, centrado em temas da realidade estudantil. Talvez não passe pela sua cabeça que os temas externos se relacionam com os internos, nem tenha a nossa compreensão, de que começamos de dentro para, nas nossas possibilidades, abarcar o que está fora. Em um ímpeto sincero, ele quis melhorar sua situação, que não era só sua. Política remete à pólis, e não há porque para a Universidade não caber no conceito de pólis. De nada adianta. Julião também ignora etimologia.

Contudo pensa em como o seu curso poderia ser melhor. Pensa em como a Unicamp, o ambiente que vive, poderia ser um lugar melhor. Julião não sabe que isso é que é fazer política. E não tem ninguém para ensiná-lo. Alguns, porque também não o sabem. Outros, porque o querem um técnico capacitado. E outros (os que dizem fazer a tal "política"), não parecem estar lá muito preocupados com a sua pólis, mas com Sóis, Socialismos, Comunismos e Causas Operárias, e, se o chamarem, o farão puxando-o para suas demandas.

Nesse momento, Julião deverá responder:

      Não me peguem no braço!

      Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.

      Já disse que sou sozinho!

      Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!





Assinam esta tese:

Alan Godoy Souza Mello (Engenharia de Computação) 022991

Gilberto Machel Veiga D'Angelis (Lingüística) 033016

Thiago Serra Azevedo Silva (Engenharia de Computação) 025291

Eduardo Montenegro Franceschini (Engenharia de Computação) 023611

Raquel Guerreiro Machado (Engenharia de Computação) 024952

Edson Mikio Nishida (Engenharia de Computação) 023588

Tiago Fernandes Tavares (Engenharia de Computação) 025304

Gustavo de Angelo Andrade (Ciência da Computação) 993930

Franz Glauber Vanderlinde (Engenharia de Computação) 043648

Helder dos Santos Ribeiro (Engenharia de Computação) 033245

Milena Machado Jesus (Filosofia) 063229

Gustavo Fernando Padovan (Engenharia de Computação) 061316

Igor Ribeiro de Assis (Engenharia de Computação) 044072

Glauber de Oliveira Costa (Engenharia de Computação) 003036

Rodrigo Carvalho Rezende (Ciência da Computação) 017268

Ursula Cristina Ferreira Junque (Ciência da Computação) 011693

Ribamar Santarosa de Sousa (Engenharia de Computação) 017209

Cecília Morais Quinzani (Matemática Pura) 015689

Gustavo Lima Chaves (Engenharia de Computação) 023990

Dennis Eduardo Bachmann (Engenharia de Computação) 032203

Pós-graduandos que assinam esta tese:

Fernando Aires (Ciência da Computação) 009199

Luís Guilherme Fernandes Pereira (Ciência da Computação) 009206

Tiago Nunes dos Santos (Ciência da Computação) 041424

Mortos que assinam esta tese:

Álvaro de Campos (Nunca estudou na Unicamp)

18 comentários:

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